Agora com mais calma e já depois de ter diluído um pouco tudo o que aconteceu naquele dia, venho aqui contar o meu não parto. Foi tudo muito doloroso e ainda hoje sofro muito quando penso naquele dia, me sinto uma fracassada e tola por não ter saído correndo naquela madrugada escura e fria, nas pequenas ruas de paralepípedo do Arthur Ramos.
E ainda hoje me pergunto, porque meu Deus, porque isso aconteceu justamente comigo??
Como diz uma querida e grande amiga minha, Eloise, só escrevendo e falando, falando, falando, eu consiga extravasar um pouco disso tudo que eu estou sentindo dentro de mim. Achei que o tempo fosse diminuindo o impacto, mas que nada, tá cada vez pior, é como se uma praga fosse instalada no seu corpo e ela fosse lhe correndo aos poucos por dentro.
Abaixo segue meu relato de parto da Mariana.
Quando descobri que estava grávida, dia 14/04/10, foi uma surpresa, pq tentei muito no início do ano e não tinha ficado e então nem tinha ligado mais, nem imaginava que estava, sou lerda mesmo, só qd atrasou foi que eu desconfiei.... ai foi alegria geral, até meu marido que ficou desconfiado no início, ficou feliz... rsrsrsrs, daí pensei: tudo certo, não tinha mais lido lista nenhuma, tava por fora de tudo, mas não do sonho....
Foi quando meu mundo desabou, fui atrás da Dra. Melania, mas por acaso do destino que não quis que nós nos conhecêssemos, ela estava grávida.. então sai a caça de uma OB ou parteira que aceitasse vim para Maceió fazer meu PD! Mandei e-mails para várias, que terminaram dando respostas, umas falando que não podiam, outras sem respostas e uma que aceitou! Uauuuuu, meu mundo passou de cinza, de medo, de turbilhão para flores, para calmaria, como se fosse uma linda primavera, cheia de encantos, harmonias e cheiros, que sensação maravilhosa daquele dia ensoralado...
Comecei então a procurar um médico aqui em Maceió que pudesse entrar no meu caminho de acordo com os meus desejos, enquanto isso, os enjôos eram cada vez maiores e a indisposição também, mas tinha a Letícia já um pouco enciumada e o trabalho que não me deixava descansar nem por um minuto. Fiz algumas ultras no início com a minha tia, só para ver se estava tudo bem e por desencargo de consciência (quando vc tem um aborto do jeito que eu tive, fica no inconsciente da pessoa uma sensação de desconforto, medo, de que algo possa dar errado, com Letícia também tive isso, mas eu era mais tranqüila sei lá, dessa vez a vontade de engravidar e parir era tanta, que eu tinha medo de perder meu bebê), estava sentindo muitas cólicas, tipo umas 5 vezes por dia, daí ela constatou que eu estava com um pouquinhooooooo de deslocamento, mas que tb poderia não ser, por estar no início mesmo, isso não significava nada, poderia ser o embrião se ajustando.... eu não fiquei preocupada, já tinha lido muito sobre isso e desencanei, só em saber que ele (a) estava vivo, me aliviava.... fui a um médico louco no início, que nem me deu muita bola, ele me disse que não estava fazendo mais partos e pediu que eu fosse em outro, mas me passou todos os exames que eu deveria realizar. Marquei em outro médico, fui a ele, como eu estava com um pouco de secreção, ele me passou uma citologia oncótica (acho que foi isso), que me fez ficar três dias depois do exame, desesperada, pq comecei a ter sangramentos escuros. Fui ao hospital e o médico viu que estava tudo bem e me fez relaxar.
Não voltei mais nele, e nesse mesmo tempo a parteira me respondeu! Ahhh como eu fiquei feliz, finalmente meu bebê teria um parto decente e do jeito que eu sempre sonhei. Ela é de Recife e isso me deixava um pouco inquieta, mas em conversas via e-mail, sempre tinha uma palavra de esperança dela, dizendo que daria tudo certo. Estava tudo se encaminhando. Decidi partir para o plano B, procurar um médico aqui que pelo menos tentasse o que eu tanto queria (sabia que ia ser difícil), fui atrás do único médico que dizem ser referência aqui em Maceió em PN, fui a ele, mesmo pagando e amei desde o início, calmo e tal, pensei: Está ótimo para o plano B!
Descobri que era menina, papai escolheu o nome e eu aceitei: Mariana. Então fiquei via e-mail com parteira e ao vivo e fazendo exames horrorosos com ele. Desde o início minha amigona do peito Rosário do RN, aceitou ser minha doula e isso me deixava feliz e confiante, ela é maravilhosa e eu saberia que daria tudo certo com ela do meu lado. Fiz o meu plano de parto e com 6 meses fui a Recife, conhecer a parteira e tentar tranqüilizar meu marido, que até então não aceitava o PD, estava receoso, com medo e tal. O encontro foi ótimo, ele gostou demais das explicações dela. Minha felicidade estava completa, foi minha melhor época de gestação. Queria voltar a sentir aquele sensação maravilhosa daquele momento.
Tirei fotos da minha gestação é um lugar maravilhoso daqui de Maceió com minha filha e meu esposo e foi lindo! As fotos ficaram lindas e eu estava radiante, feliz...
Fiz o último exame mais ou menos umas 3 semanas antes de Mariana nascer e ela estava com o cordão enrolado. Qd levei ao médico ele preferiu fazer a cardiotocografia fetal, fiz uma semana antes dela nascer, estava tudo bem, dei graças a Deus, mas isso não me preocupava, podia ser indício de cesárea para o médico, mas para mim minha filha estava ótima e eu não aceitaria somente pelo cordão estar enrolado. Decidimos ir passar o final de semana em uma casa de praia com a turma do barulho do colégio (5 amigas irmãs: Naira, Bartyra madrinha de Mari, Aline e Neilza), foi maravilhoso! Aproveitamos muito, confesso que subi e desci escadas, milhões de vezes, que abusei do sol, da praia e de tudo! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk, andei bastante na areia, senti minha bebê com muito carinho, foi especial aquele final de semana.
Voltamos no Domingo e assim que chegamos em casa lá paras 18:30, quando eu sai do carro e pisei no chão em frente ao prédio onde moro, a bolsa estourou.... senti uma coisa inexplicável dentro de mim e pensei, chegou a hora! Minha cabeçla rodou, me senti confusa, perguntei a mim mesma, e agora o que eu faço? Conto ao marido que estava ao meu lado? Ou fico calada e só digo depois que começarem as contrações?
Decidi contar e foi aí que meu mundo desabou! Ele ficou louco, queria ir ao hospital naquele momento, pedi calma, estava com roupa de praia ainda, tomei um bom banho, mas todo mundo em casa já se preparando, minha mãe e minha irmã. Assim que eu termino o banho, entro na net e tento falar com a parteira, não consigo, seu telefone não atende, falei com uma amiga de Recife que me informou que ela estava em Brasília, daí nem me preocupei mais com ela, fui tentar pensar no que eu faria agora, sozinha, sem uma doula pra me ajudar, já que eu estava me programando em Rosário vim nessa semana a Maceió ficar comigo. Eu acho que falhei bastante nessa etapa, mas fiquei muito receosa, pq nesse meio tempo, Rosário também engravidou e ela estava enjoando muito, fiquei meio assim em tirá-la do conforto do seu lar para pegar avião, ônibus e tal.
Foram várias inconvenientes que aconteceram e que hoje escrevendo e lendo, vejo que somando tudo, iriam ser fundamentais para o sucesso.
André ligou para as minhas amigas e elas terminaram indo lá para casa, e foram elas que conseguiram manter um pouco a minha calma, pq eu já estava aos berros com minha mãe e minha irmã que ficaram enlouquecidas e a dizerem coisas absurdas, que eu não gosto nem de lembrar.
Liguei para o médico, ele me tranqüilizou e disse que só queria me ver depois, eu até pensei, ótimo! Ele deixou eu ficar em casa. Elas fizeram massagem em mim, auxiliadas pela Rosário via net, rsrsrsrsrsr, tive apenas umas 5 contrações muito leves, espaçadas que hoje nem me lembro mais o tempo entre elas. Tentei descansar pq pensei que quando engrenasse, estaria mais forte para agüentar o tranco, dormi e só acordei com o médico ligando acho que às 02:00 mais ou menos, desliguei, pensei, não vou atender, mas André ficou enchendo o saco e eu terminei ligando e ele me perguntou como estava, eu relatei dizendo que não estava sentindo nada. Ele pediu que eu fosse ao Hospital para que ele pudesse dar uma olhadinha em mim.
Nós fomos, eu, minha irmã e André. Chegando lá, ele ainda não estava, telefonei e falei que já estava lá, o hospital estava vazio, frio e sem nenhuma vida. Ele estava no hospital vizinho atendendo outra grávida que tinha acabado de ter o seu bebê de cesárea...afff... já sabia meu fim... ele me examinou e meu mundo acabou ali. Eu estava sem nenhuma dilatação, colo grosso e bebê alta, e foi categórico vamos para a sala de cirurgia, eu não quis aceitar, chorei, briguei com os três dentro da sala, me chamaram de louca e irresponsável, daí por diante só me lembro de alguns fatos, ligações e mais ligações para a Rosário (tadinha a acordei em plena madrugada), chorei muito olhando para o céu e para as estrelas perguntando a Deus pq o meu desfecho foi aquele, porque comigo estava acontecendo tudo aquilo? Fiquei afastada e sem querer conversar com ninguém. O médico veio falar comigo e eu disse o quanto eu estava decepcionada, ele me perguntou se eu queria permanecer daquele jeito e eu respondi que sim, mas que as pessoas que estavam comigo, não iriam aceitar e iam falar por mim, roubando os meu direitos e as minhas vontades.
Fui praticamente a força para o CC, com o rosto completamente inchado de tanto chorar, quando entrei dei de cara com o meu GO da minha primeira gestação!!O médico que me atendia, quando realizava cesárea, tinha ele como auxiliar, afff, ninguém merecia, aí foi que me deu mais raiva.
Chegou a hora da anestesia, uma senhora me atendeu, foi ótima ela por sinal, me explicou tudo, eu falei que não me amarrassem e ela me respeitou. A anastesia doeu demaissss e eu gritava, xingava, foi horrível, senti tudo, o queimor descendo pelas minhas pernas, conseguia mexer o pé, a peridural é assim mesmo. Só quando vi a carinha da minha filha, esqueci por um momento tudo o que eu tinha vivido nessas últimas três horas... ela nasceu mais ou menos às 04:45 da manhã. Não chorou, tão fofinha.
Pedi para a pediatra não fazer as intervenções exigidas pelo hospital, mas ela disse que não podia, teria que fazer, fiquei enlouquecida, mas estava tão fraca psicologicamente e chorava tanto que eu nem me atrevi a brigar. Fiquei na sala de recuperação e a levaram longe de mim, pedi para André ficar todo tempo com ela, mas ele não ficou, não sei o que fizeram com a minha filha nesse momento. Na sala de recuperação foi horrível, eu sozinha, um frioooo, continuo chorando, pensando, divagando sobre tudo o que estava acontecendo e penso: isso não foi comigo, estou sonhando, é mentira! Acordaaaaaa mulher! Cadê a guerreira que disse que matava o mundo se fosse preciso para ter o seu lindo parto, cadê a mulher que falou que se separava se fosse preciso, que iria para onde fosse para ter? naquele momento percebi que aquela mulher, tinha morrido, aquela mulher tinha ficado do tamanho de uma formiga, tinha virado um caracol e entrado em sua concha. Ouvi vozes, parei de soluçar, parei de chorar, comecei a prestar atenção, não acreditei, como assim falando de mim? Na sala ao lado, as enfermeiras auxiliares estavam comentando e fazendo imitações do meu momento de dor no CC, estavam falando alto, era para eu ouvir??? E ficaram rindo, aquilo me encheu de uma tal maneira que se eu pudesse eu desceria daquela maca e daria uns bons tapas nelas.
Fui para o quarto, não lembro se a Mari já estava lá ou ela chegou logo depois, só sei que curti e esqueci um pouco, não consegui dormir, cochilei, qd acordei tomei banho, senti muitas dores e xinguei, xinguei muito.
Justificativas do médico, não podeia ficar mais tempo de bolsa rota, era contra os padrões DELE. E quando abriu viu que o cordão era curto demais, diz ele que eram dois palmos apenas.
Quando o lobo em pele de cordeiro chegou, me perguntou se estava tudo bem, mal o respondi, não estava a fim. Agora suas palavras já não me importavam mais e eu queria que ele saísse era logo da minha frente. Fui para casa sentido dores insuportáveis, não tinha posição legal. Só fazia chorar, lia a lista Parto Nosso, aí é que eu chorava, lia as mensagens de carinho das amigas virtuais, as únicas realmente a me entenderem.
Momentos que estavam esquecidos e relembrei depois de já ter postado: Mariana mamou muito bem e pegou de primeira a minha bezerrinha, ela nasceu pequena, daí as enfermeiras daquele hospital de merda, queriam fazer teste de glicemia nela e dar complemento, por ela não ter feito xixi no momento que elas queriam, parti para o ataque, virei leoa, isso seria demais, já tiraram o direito de eu parir, agora mexer na minha filha, eu não admitiria por hipótise nenhuma. Coloquei-a várias vezes para mamar e deu certo! ela fez um xixi bem grandão, menina esperta...
Tive um pouco de baby blues, não conseguia me alimentar, não conseguia dormir e chorava muito, mas o que me mantinha esperançosa, era a carinha fofa da Mari. Infelizmente tive que voltar ao médico para retirar (achava eu os pontos), qd ele disse que estava tudo bem e me perguntou pela a bebê, respondi bem fria que estava em casa, ficou surpreso, sempre todas as mães levam para dizerem com orgulho: Olha filho (a) o médico que te trouxe ao mundo! Uma pena, pensarem dessa forma e não verem que realmente nós as mães é quem trouxemos nossos filhos ao mundo e não eles.
Hoje escrevo, não chorei, mas confesso que dói muitooooo, não tenha um dia na minha vida que eu não pense naquele dia. As marcas estão por toda parte, a cicatriz que demorou a fechar, como se o meu corpo estivesse rejeitando tamanha agressividade e não aceiteasse, o pensamento que vai e volta relembrando a todo momento os piores momentos que já vivi nessa vida. Não me recordo de tamanha decepção eu já ter sofrido. Mas é isso gente, ficou longo e já deu né... o show acabou, mas o espetáculo pode continuar, pretendo fazer um curso de doula e me adentrar mais.
Sim, quero ressaltar que minha amiga queria Rosário teve o seu sonhado parto domiciliar e foi lindooo...
Agradeço também as meninas da lista Parto Nosso pelo apoio: Rosário, Eloise, Lu Moretto, Priscilla Rabelo, Carla Lanzel, Érika, Marly, Jobis e aos demais que por ventura possa ter esquecido.